Suspensa na enxada da paixão, procuro a matriz transposta da noite, olho cansadamente para a equação diferencial do desejo, elevo ao quadrado o beijo e, fico com o corpo embrulhado no luar. Hoje pareço uma estrutura metálica prestes a ruir no cansaço da escuridão, como acontece aos pássaros todas as noites quando vão dormir.
Suspensa na enxada da paixão, sento-me perante este rio triste e sombrio, como eu, enquanto um estúpido relógio caminha para o abismo. Não serei mais abrigo ou refúgio para a rendição de pecados que não são meus. Fui a ilusão poética entre os dedos teus. E tu a mentira catastrófica de um vulto que em poeira cósmica se transmutou em adeus.
Amanhã acordará o dia, faz-se homem e, morre junto à noite tranquila da aldeia.
Há encontros de alma que nos mudam as rotas do coração... Que nos deixam na boca a doçura do mel.... E a impressão mágica do toque, ao arrepio da pele...
À medida que os dias de outono avançam, persisto em ler-te porque preciso de o fazer. Entro dentro do meu (teu) universo, que dá continuidade ao meu...
Simples este sentir, esta forma de descrever o momento, os dias, os meus.
Quanto mais na vida se acelera o quotidiano mais eu retenho as horas no astrolábio dos resistentes. Lenta, lentamente, permito ao tempo outras perspectivas - sinais abertos a todas as direcções. Assim me purifico. E no que outros acham não ter sentido, eu pergunto: - e há sentido na vida? Cada um o sente e o julga à sua maneira. Há, contudo, um objectivo que nunca descuro - a liberdade - a minha - a da escolha que cabeça e coração sabem poder e dever construir.
Aí reside a minha casa, na sombra dos arbustos, no silêncio do lugar, no tempo das perguntas cujas respostas, inevitavelmente, conduzem a outras perguntas. Assim sou.