procuro-te
Procuro-te por entre as gotas ácidas de uma chuva de rostos humanos, à mercê da própria dor. Procuro-te por entre os becos das avenidas, nas pedras incipientes da calçada fria rafada por pés mundanos. És apenas o pensamento esquecido e empoeirado pendurado nas arestas da minha alma. Onde te escondes dos olhares que te ignoram, que não se conjuram a pensar na tua fugaz existência?
És vulgar mas no entanto procuro-te. Procuro-te…. responde-me voz alheia e imperceptível onde te escondes?
Nas faces dos velhos que imploram a carícia de uma mão face à rugosidade da pele?
No olhar das crianças pedindo gotas de colo num choro, tão indelével como a sua meiga voz?
Na fome de um qualquer mendigo que anseia um naco de pão?
Na face da solidão que se roça pelos poros de um corpo incapacitado à nascença?
No coração que pulsa à falsa fé o sentimento, a seiva humana que nos dá a visão do próximo?
Onde te escondes?
Procuro-te em dedos entrelaçados ao cair da noite, em horas fugazes. Em silêncios que gritam segredos profundos de almas dilaceradas num último adeus.
Procuro-te porque és memória presente de um sorriso que o tempo não se atreve a apagar. És volúpia incessante, palavra distante, voo, luar...